quinta-feira, agosto 23, 2007

"Agflação" / "Agflation"

"Agflação" é a nova entrada para o jargão da economia. Trata-se da inflação dos preços de bens agrícolas. Há gerações que não se viam aumentos de preços desta magnitude nos mercados internacionais.
O preço dos cereais, lacticínios (o leite aumentou quase 60% nos mercados internacionais no último ano), carne, etc., têm registado aumentos significativos (aumentos percentuais de dois dígitos), segundo noticia o "The Independent", com o título "The fight for the world's food":
«[...]for the first time in generations agricultural commodity prices are surging with what analysts warn will be unpredictable consequences.»
«Rice prices are climbing worldwide. Butter prices in Europe have spiked by 40 per cent in the past year. Wheat futures are trading at their highest level for a decade. Global soybean prices have risen by a half. Pork prices in China are up 20 per cent on last year and the food price index in India was up by 11 per cent year on year . In Mexico there have been riots in response to a 60 per cent rise in the cost of tortillas.»
Podemos estar a sair da era da alimentação barata, à semelhança do fim da era do combustível barato. Aliás, existe uma relação entre os dois fenómenos. Parte deste aumento nos preços dos bens alimentares está relacionado com a explosão da procura por biocombustíveis, nomeadamente os produzidos a partir do milho, conflituando assim com a sua utilização na produção de alimentos. A maior parte do milho é utilizado como ração para animais de modo que os preços do leite, ovos, manteiga, queijo, carne, gelados, etc. são influenciados pelo preço do milho.
«While relatively little corn is eaten directly it is of pivotal importance to the food economy as so much of it is consumed indirectly. The milk, eggs, cheese, butter, chicken, beef, ice cream and yoghurt in the average fridge is all produced using corn and the price of every one of these is influenced by the price of corn.»
Outra razão para este aumento dos preços é o aumento da procura por parte de países em franco desenvolvimento económico como a China, a Índia, a Rússia, etc. Factores de ordem cultural, como por exemplo, a adopção de dietas alimentares mais "ocidentalizadas", fruto da expansão da grande indústria alimentar para países como a China, terão também o seu peso.
Este aumento de preços dos produtos agrícolas, ao contrário do que possa parecer, pode trazer benefícios para os países mais pobres, embora estas consequências não sejam automáticas e exijam alguma cautela nas análises, dada a complexidade e variedade das situações.
De modo que aqui as opiniões divergem. Por exemplo, Jean Ziegler, relator especial das Nações Unidas para o direito à alimentação teceu fortes críticas aos governos europeus e americano pela sua aposta nos biocombustíveis, acusando-os de condenar à fome centenas de milhares de pessoas.
Frei Betto, frade dominicano brasileiro, fala em necrocombustíveis, necro (que significa morte) por oposição a bio.
Lester Brown, do Earth Policy Institute, afirmou perante o Congresso Americano que o cenário estava montado para uma competição directa entre os 800 milhões de pessoas que têm automóvel e os 2 mil milhões dos mais pobres do mundo.

"The stage is now set for direct competition for grain between the 800 million people who own automobiles, and the world's 2 billion poorest people."

«Anger boiled over this week as Jean Ziegler, the UN special rapporteur on the right to food, accused the US and EU of "total hypocrisy" for promoting ethanol production in order to reduce their dependence on imported oil. He said producing ethanol instead of food would condemn hundreds of thousands of people to death from hunger.»

No entanto, os enormes excedentes agrícolas, gerados pela Política Agrícola Comum europeia e pelos apoios governamentais aos agricultores norte-americanos, foram lançados nos mercados internacionais durante décadas a preços muito reduzidos provocando a ruína dos agricultores de inúmeros países cuja principal fonte de rendimento era a agricultura.
Preços mais elevados poderão contribuir para refazer muitas dessas economias. É uma das conclusões do estudo do WorldWatch Institute, intitulado Biofuels for Transport: Global Potential and Implications for Energy and Agriculture.

Acresce a tudo isto os desafios sobre a produção alimentar que as Alterações Climáticas virão trazer. Segundo a FAO, é provável o aumento do risco de fomes.
As mais recentes tendências da produção alimentar global também lançam alguns alertas, embora alguns não prevejam problemas de maior num horizonte mais ou menos alargado: World food trends and prospects to 2025.

Claro que numa perspectiva tecnocrática bem intencionada tudo poderia correr pelo melhor se a vontade política fosse esclarecida, se a cooperação internacional funcionasse na perfeição, se a corrupção e a ganância não existissem e se a informação/formação dos consumidores fosse perfeita em todos os cantos do mundo. São muitos ses!
Será nesta perspectiva mais ou menos tecnocrática, creio eu, que se poderá incluir este relatório da FAO, "Environment and agriculture".
Nele se analisa a urgência de conciliar as necessidades crescentes por alimentos da Humanidade (que se projecta venha a crescer 50% até 2050) com a preservação da biodiversidade e ainda com a pressão exercida sobre estes dois objectivos resultante da procura crescente por biocombustíveis. Segundo a própria FAO, são "trade-offs"/equilíbrios muito difíceis. De modo que talvez fosse mais sensato admitirmos que algo tem de mudar no "business-as-usual".
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sábado, agosto 18, 2007

Biopirataria no Brasil: o saque de um país fenomenalmente rico


Numa conversa casual com um brasileiro que me cortava o cabelo, ele queixava-se que o salário mínimo brasileiro não chegava ao 400 reais (cerca de 140 €)
Ao meu comentário de que, no entanto, o Brasil deveria ser um dos paises mais ricos do mundo, ele respondeu : ah sim, agora com o petróleo e os transgénicos a coisa deve melhorar.
Acontece que o problema do Brasil é sobretudo institucional: a corrupção e o saque do país em favor de uma elite nacional associada a interesses externos. Não é de transgénicos que o Brasil precisa. Precisa sim de preservar a sua extraordinária biodiversidade, que para além das dimensões éticas e estéticas tem também um gigantesco valor comercial. Conheci um professor de Belas Artes do Estado do Piauí que se lamentava da família ter perdido uma fazenda onde, em tempos, produzia a cera de carnaúba, se bem me lembro, que, disse-me ele, tinha sido usada na produção de discos, antes do petróleo se ter imposto.
Tudo isto vem a propósito de um fenómeno moderno que assola o Brasil e outros países com riquezas semelhantes: a biopirataria. Este texto "Florestas Saqueadas" ilustra bem o problema. A questão aqui não é contra o aproveitamento comercial da biodiversidade, mas contra a sua exploração sem regras, pirata, e sem preocupação pelo futuro.

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quarta-feira, agosto 15, 2007

As ameaças do mundo actual


Um novo livro da colecção Sociedade Global da Editorial Presença: "As ameaças do mundo actual: alterações climáticas, escassez de recursos naturais, marginalização, militarização, terrorismo". Título original,"Beyond Terror"- "Será mesmo o terrorismo internacional a ameaça principal à segurança internacional?"
De facto todos estes tópicos estão, de algum modo, relacionados e exigem uma resposta global, que falta ainda encontrar, mas de que já existem alguns sinais nos movimentos sociais internacionais.

Algumas das ideias

1 - "O terrorismo não é a maior ameaça enfrentada pelo mundo."
2- "As alterações climáticas são o mais grave motivo de preocupação"
3- "A energia nuclear não nos ajuda a combater as alterações do clima ou a satisfazer as necessidades de energia de forma segura"
4- "A procura de recursos, especialmente petróleo, está a provocar conflitos e a gerar insegurança"
5- "Se queremos evitar um futuro altamente instável, precisamos de repensar todas as nossas políticas de segurança"

Este livro dá muitas pistas para propor, obrigar, os governos em geral, e do G8 em especial, alterações radicais nas suas políticas de segurança e externa.
Não chega às 100 páginas, vale a pena ler!
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sábado, agosto 11, 2007

Antibióticos

Participe nesta campanha da Union of Concerned Scientists contra a utilização de antibióticos na produção de carne, subscrevendo esta petição.
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segunda-feira, agosto 06, 2007

A máquina negadora (The denial machine)

Vale a pena ler este artigo da Newsweek sobre o historial das manipulações dos grupos de pressão ligados a várias indústrias acerca da questão das alterações climáticas.
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quarta-feira, agosto 01, 2007

Vídeos de discussão sobre alterações climáticas pela Royal Society

Pode ver os vídeos aqui , basta premir em Environment and Climate, e tem uma lista de 15 sessões, intituladas 'Climate Change Discussion Meeting'.
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