terça-feira, junho 19, 2007

A escravatura ainda existe!

As condições de trabalho na China, em alguns sectores de mão de obra intensiva, assemelham-se muito aos tempos da revolução industrial inglesa do séc. XIX, retratados nos romances de Charles Dickens e por Charlie Chaplin no seu célebre filme Tempos Modernos . A escravatura não é um fenómeno do passado. Está hoje bem presente em várias partes do mundo.

Todos nós, enquanto consumidores, temos uma palavra a dizer. A organização China Labor Watch promove campanhas de responsabilização de empresas ocidentais a operar na China. Não se trata de impedir que invistam na China, mas que respeitem os mínimos de dignidade das pessoas, num país onde não há sindicatos e imprensa livres.

Esta e outras organizações denunciaram condições de trabalho terríveis em empresas subcontratadas por multinacionais ou marcas ocidentais, nomeadamente Puma, Adidas, Nike, Walt Disney, etc. O caso desta última envolveu a publicação de um relatório chamado "Em busca da consciência do Rato Mickey".

Para os mais cépticos, eis alguns exemplos das condições de trabalho escravas ou semi-escravas retiradas do livro "China e Índia" de Federico Rampini, publicado pela Presença na colecção Sociedade Global.

«"Em todas as secções trabalham rapazes entre os 14 e os 16 anos", dizem os testemunhos internos: uma exploração do trabalho infantil que, em teoria, colocou a China fora da lei. O dia de trabalho inicia-se às 7.30 e acaba às 21h, com duas pausas par a o almoço e para o jantar, mas, para além do horário oficial, as horas extraordinárias são obrigatórias. Nos meses de ponta, em Abril e Maio, em que a Timberland aumenta as encomendas, "o turno normal passa a ser das 7 às 23h , com um domingo de descanso de duas em duas semanas ; as horas extraordinárias obrigatórias também aumentam e os trabalhadores passam até 105 horas por semana no interior da fábrica".[...] O pagamento mensal é de 757 iuanes (76 euros), mas "44% são deduzidos para cobrir despesas de alimentação e de alojamento".
Alimentação e alojamento significam uma camarata em que se amontoam 16 trabalhadores[...].»
E para cúmulo do escândalo, o operário que confecciona, por exemplo, um par de sapatos "Timberland" de 150€, recebe apenas 50 cêntimos pelo seu trabalho. Viva a globalização! Não admira que a parte do trabalho no rendimento total esteja a diminuir!
Esta descrição é apenas uma pequena amostra.

Mas atenção, os activistas da China Labor Watch fazem sempre o seguinte apelo: "Esta não é uma campanha a favor do boicote dos produtos chineses. Não queremos levar as multinacionais americanas a anularem as suas compras. Os trabalhadores que nos revelaram estas notícias não podem permitir-se perder o seu emprego. É melhor serem explorados do que estarem desempregados. O seu pedido vai apenas no sentido de poderem ser tratados como seres humanos"


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